Lisboa /
Duran, J. R.
Lisboa / - 1. ed. - São Paulo, SP: Francis, 2002. - 100 p.
Com um pouco de esforço lembrou em que vôo estava. Algumas vezes, de tanto viajar em aviões, não fazia a mínima idéia de para onde ia nos primeiros segundos que se seguiam ao acordar. Às vezes não lembrava, por exemplo, quais os sapatos que estava calçando. Com o tempo, isso havia se convertido em um jogo interessante. Acordado e com os olhos fechados, tentava lembrar que sapatos calçava naquele momento. Poderia ser o par com solas de crepe ou o outro, com solas duras. Se fosse o de sola de crepe, poderia ser o marrom de camurça ou o preto com filigranas desenhadas por pequenos buraquinhos. Mas agora, não. Agora sabia, apesar da ressaca, que estava chegando a Lisboa. Um raio de sol filtrava-se pela janela do avião. Além domais lembrava-se exatamente de que sapatos usava. Eram os pretos de sola de crepe. A cabeça doía e a língua, dentro da boca, era uma réplica da sola do sapato.
LITERATURA BRASILEIRA
Lisboa / - 1. ed. - São Paulo, SP: Francis, 2002. - 100 p.
Com um pouco de esforço lembrou em que vôo estava. Algumas vezes, de tanto viajar em aviões, não fazia a mínima idéia de para onde ia nos primeiros segundos que se seguiam ao acordar. Às vezes não lembrava, por exemplo, quais os sapatos que estava calçando. Com o tempo, isso havia se convertido em um jogo interessante. Acordado e com os olhos fechados, tentava lembrar que sapatos calçava naquele momento. Poderia ser o par com solas de crepe ou o outro, com solas duras. Se fosse o de sola de crepe, poderia ser o marrom de camurça ou o preto com filigranas desenhadas por pequenos buraquinhos. Mas agora, não. Agora sabia, apesar da ressaca, que estava chegando a Lisboa. Um raio de sol filtrava-se pela janela do avião. Além domais lembrava-se exatamente de que sapatos usava. Eram os pretos de sola de crepe. A cabeça doía e a língua, dentro da boca, era uma réplica da sola do sapato.
LITERATURA BRASILEIRA