Amor é prosa, sexo é poesia e política também rima com pornografia - no vício brasileiro pela crise, na tara nacional pelo destino-pastelão. O que será de nós, pergunta Jabor, no dia em que a crise for embora, e sem assunto ou tremor, formos relegados a tarefas menores, como... trabalhar? Sentiremos então, profetiza, um intenso tédio conjugal pela pátria. Com a admirável capacidade de aliar temas públicos ao universo de nossas fixações interiores, Arnaldo Jabor se tornou conhecido como um dos analistas mais brilhantes do país, capaz de captar delicadas flutuações do nosso existir. Cineasta da palavra, como definiu Jô Soares, ele constrói imagens precisas para retratar sentimentos, desenha frases que pulsam, dá nome aos bois - e aos bodes da nação. Arrojado, inteligente, profundo - seu texto flui sem preconceito ou superego, como se a ninguém temesse, sem pudor de confessar miséria ou medo, no caldeirão em que se misturam memórias de infância, análises políticas e confissões sexuais, amorosas, daquelas que os homens costumam fazer secretamente. Jabor fala no horário nobre da TV o que discutimos na sala de estar, só entre amigos, e escreve o que ainda nem imaginávamos pensar, ou sentir.